Saber estes principais erros pode te ajudar a ter boas práticas no manejo.
1 – Improviso
A grande vantagem do confinamento é, exatamente, ter controle quase que total sobre os fatores de produção, pois podemos contabilizar previamente tudo que entra e tudo que sai. É possível, inclusive, começar um confinamento economicamente zerado ao se usar algum mecanismo de venda futura cujo total negociado feche o custo previsto. A premissa que se faz é que tudo correrá como o estimado, o que costuma ser o caso quando o confinamento é bem planejado e gerenciado. Às vezes, termina-se com resultados técnicos um pouco acima, outras um pouco abaixo, mas, em geral, próximos ao esperado.
O confinador precisa estimar o preço de compra dos animais magros, o custo da produção do volumoso, estimar seus custos operacionais (máquinas e mão-de-obra), formular a dieta de menor custo da arroba e colocar tudo na ponta do lápis. Com isso, ele pode decidir confinar ou não, bem como quantos animais confinará, incluindo se fará mais de um “tombo”, o que pode até duplicar a capacidade estática se fizer dois confinamentos em sequência com a capacidade total de ocupação, o que deverá ocorrer num ano de baixos custos e preço da arroba elevado.
Um detalhe importante sobre o preço do boi magro é que, mesmo que os animais confinados venham das pastagens da fazenda, o recomendado é usar o preço de mercado desses animais. Primeiro, porque efetivamente haveria a chance de vendê-los e, segundo, porque, caso contrário, a eficiência econômica de produzir em pastagem estaria sendo transferida para o confinamento, ou seja, a realidade seria distorcida e, quando isso acontece, decisões ruins são tomadas. Esse valor de mercado do produto, em vez do custo de produção, é chamado de custo de oportunidade e ele também pode ser usado para o volumoso ou quaisquer outros ingredientes que sejam produzidos na fazenda.
Planejar e rodar um confinamento demanda uma forte dose de gestão e, se não houver disposição para assumir esse compromisso de dedicação ao planejamento e, depois, à rotina diária de trabalho, deve-se pensar duas vezes antes de embarcar nessa atividade, pois os investimentos são elevados.
2 – Problemas nas instalações
Os principais problemas observados em instalações de confinamento são:
– Má drenagem;
– Falta de inclinação do terreno;
– Inclinação a favor do cocho;
– Espaço linear de cocho insuficiente e
– Sombra inadequada.
No caso da má drenagem, quando ocorrem chuvas no período do confinamento, há a formação de lama, que é um grande inimigo do desempenho animal. O principal problema é quando a lama dificulta o acesso ao cocho e, consequentemente, ocorre a redução do consumo. Para evitar isso, o terreno deve ter inclinação e ela deve ser feita no sentido oposto ao cocho, isto é, de forma que ele fique situado na cota mais elevada.
Em locais com altas temperaturas, aumenta-se a probabilidade de situações de estresse térmico, pois a lama funciona como um isolante e o animal enlameado tem dificuldade de troca de calor com o ambiente.
Com relação ao espaço linear de cocho, se for possível dar 50-60 cm lineares/cabeça é o ideal, pois todos os animais, em tese, podem comer ao mesmo tempo e isto praticamente eliminaria a competição por cocho. Na prática, contudo, o que vemos são confinamentos com 30 cm/cabeça ou até menos.
Além de ser recomendada cautela com essa redução, deve-se ficar atento às condições que reduzem a competição pelo alimento e, portanto, deixem a restrição por espaço linear menos críticas: (a) fazer lotes homogêneos, (b) alimentos bem misturados e que sejam de difícil seleção e (c) animais de temperamento mais dócil, o que reduz o estrago da competição.
Todavia, nenhuma delas é mais importante do que dividir a oferta da dieta em várias refeições ao longo do dia. Isso porque, ao se dobrar o número de refeições do gado confinado, fazemos com que os dominantes venham na primeira vez e nas demais alimentações ímpares, enquanto os submissos tem a chance de pegar a segunda (e demais pares), pois os dominantes terão menos ímpeto de ir ao cocho por já estarem alimentados, dando chance dos submissos terem sua vez.
Aqui, é importante reforçar a questão da boa mistura, pois se não houver e for fácil para os animais selecionarem o que querem comer, os animais que chegam antes comem uma dieta e os retardatários outra, sendo que ambas são piores do que a dieta colocada originalmente no cocho.
Dar a opção aos animais de buscarem sombra sempre é interessante, mas se ela for oferecida de forma inadequada, problemas ocorrem. Da mesma forma com o cocho, devemos evitar a competição por sombra e, se ela for oferecida, o ideal é que haja para todos. O exemplo extremo de erro de alocação de sombra seria colocá-la sobre o cocho, pois se um animal dominante ocupá-la, ele bloqueia o acesso ao cocho para os demais, sendo mais um fator a atrapalhar o consumo.
3 – Tratamentos sanitários insuficientes
Ao concentrar muitos animais em um espaço pequeno, aumentam as chances de problema sanitário. Ainda assim, na maioria das vezes não há necessidade de grandes intervenções. Certamente, os animais devem ter recebido todas as vacinações obrigatórias conforme as normas sanitárias vigentes para o local onde se encontra o confinamento. Além disso, outras vacinações, a critério de um veterinário, podem ser interessantes. As mais comuns de serem recomendadas são a contra o botulismo e a contra doença respiratória.
Costuma ser interessante fazer vermifugação previamente à entrada dos animais e ela basta, pois no ambiente do confinamento não há reinfestação. Recomenda-se usar vermífugo de amplo espectro.
4 – Seleção inadequada de animais
O confinamento é, muitas vezes, usado para dar fim a “animais-problema” e, dependendo do caso até pode valer à pena, mas deve-se ter em mente que isso é a exceção. Na regra, deve-se procurar selecionar animais:
(i) Com alto potencial de ganho: Dar preferência a animais “bons de caixa”, ou seja, de maior porte, não só porque eles costumam desempenhar melhor, mas porque as maiores taxas de ganho de peso permitem adiantar sua terminação que, em pastagem, seria problemático.
(ii) Com grau de terminação médio para baixo: O ideal é ter o animal antes de “meia-carne”, porque se aproveita seu ganho compensatório. O grau de terminação pode ser avaliado pelo escore de condição corporal (ECC), escala na qual o animal “meia-carne” seria o animal cinco e nesse caso um animal com ECC igual a quatro seria um dos mais interessantes.
Além desses dois atributos, devem apresentar bom estado geral de saúde e, de preferência, serem semelhantes, para facilitar a formação de lotes homogêneos, evitando o próximo pecado da lista.
5 – Lotes heterogêneos
Lotes com animais muito diferentes fazem com que seja necessário fazer uma dieta que atenda os animais mais exigentes, o que significa que muitos animais vão consumir uma dieta de luxo, ou seja, o confinamento será menos eficiente técnica e economicamente. Outro problema é termos animais de um mesmo lote chegando ao ponto de abate em tempos diferentes, o que faz com que seja necessário fazer vendas picadas e, a cada vez que alguns animais saem, os remanescentes desviam energia que devia ir para o ganho de peso em brigas para restabelecimento da hierarquia do novo grupo formado.
O ideal, obviamente, é vender o lote fechado e, quanto mais homogêneo ele for, maiores as chances de conseguir uma venda única ou, pelo menos, reduzindo o número de vezes que o lote é “descascado”. Constituir lotes homogêneos, especialmente levando em consideração o sexo (macho inteiro, castrado ou fêmea), tamanho (peso) e terminação (escore de condição corporal), além da venda conjunta, ainda tem as seguintes vantagens:
– Facilita o manejo;
– Reduz o estresse;
– Reduz problemas de contusão;
– Evita problemas de competição no consumo e
– Melhora o desempenho.
6 – Dieta inadequada (receita de bolo)
A dieta que o produtor pega, como se fosse uma receita de bolo, com um confinador bem sucedido, por acreditar estar fazendo uma grande economia é um dos pontos onde se perde mais dinheiro. Na verdade, para cada situação particular há a dieta ideal, única.
Os alimentos disponíveis e seus preços, os animais que serão terminados, o peso inicial e o de abate desejado e, até, características e circunstâncias locais interferem em qual será a dieta ideal, que ainda muda de ano para ano e até dentro do mesmo ano, se há mais de um “tombo” no confinamento.
Por exemplo, a relação volumoso: concentrado ideal, é aquela na qual se obtém a dieta de menor custo em reais por arroba (R$/@), mas que tem pelo menos o mínimo de volumoso exigido pelo animal se manter saudável. Assim, num ano em que o concentrado está muito caro e o volumoso barato, a dieta ideal tem maior proporção de volumosos. O inverso ocorre se o concentrado estiver relativamente mais barato. Aliás, essa tem sido a tendência, não sendo raro o uso de dietas com o valor mínimo de volumoso para o bom funcionamento do rúmen. Na hipótese de não atendermos essa restrição podemos ter doenças metabólicas como acidose, timpanismo, laminite e abscessos hepáticos.
7 – Falta de adaptação ou adaptação insuficiente
A falta ou o insuficiente tempo de adaptação à dieta de confinamento pode: (i) causar distúrbios nutricionais, (ii) dificultar a estabilização do consumo, (iii) reduzir o desempenho temporariamente ou mesmo por todo período de confinamento.
A adaptação consiste, simplesmente, em fazer um aumento gradual do concentrado para adaptação da flora ruminal e dos órgãos dos animais à nova dieta. Em geral, 14 dias são suficientes e, apesar de termos na literatura, trabalhos mostrando que um período de apenas 10 dias seria uma opção válida, os próprios autores destes trabalhos comentam que eles são feitos em condições experimentais, em pequena escala e intensivamente supervisionados por pessoal treinado e atento às manifestações de problema, inclusive subclínicas, isto é, ainda enquanto não há sintomas aparentes do problema. Os problemas seriam as mesmas doenças metabólicas descritas para a falta de fibra na dieta no item anterior.
É comum o confinador achar que está perdendo tempo ao fazer a adaptação, mas, na verdade, ele está garantindo que os resultados previstos sejam obtidos e evitando muita dor de cabeça.
8 – Manejo da alimentação inadequado
Os erros mais frequentes no manejo da alimentação no confinamento são: (i) não monitorar consumo, (ii) não monitorar a umidade dos volumosos, (iii) diluir o concentrado com o volumoso, (iv) fornecer a dieta em uma única refeição ou com espaço de tempo insuficiente entre refeições e (vi) fornecer dietas mal misturadas.
O caso de diluir concentrado com volumoso ocorre quando se fixa a quantidade do concentrado e os animais consomem mais do que previsto, sendo essa diferença resolvida pelo aumento unicamente da quantidade do volumoso ofertada. Acaba-se fornecendo uma dieta bem diferente da planejada, com piora no desempenho e no resultado econômico.
Design sem nome (5).png No caso do número de refeições recomenda-se três vezes, caso todos os animais tenham acesso simultâneo ao cocho ou seis vezes, na hipótese de não ter para haver aquela alternância entre animais dominantes e submissos, conforme comentado no item sobre instalações de confinamento. O espaçamento de tempo entre cada refeição deve ser o maior que o horário de trabalho da fazenda permita.
9 – Ponto de abate: Manutenção de animais terminados
Aqui a recomendação é bem simples: animais terminados não devem ser mantidos no confinamento, pois eles são pesados, tem alta exigência de manutenção e comem muito. Além disso, seu ganho é praticamente apenas de gordura, o que acarreta uma péssima conversão alimentar. Enfim, quase sempre são sinônimo de prejuízo.
10 – Menosprezo à importância da água!
No meio de tantas exigências, a água acaba sendo deixada em segundo plano, o que é um grande erro. Além de ser água de boa qualidade, deve haver disponibilidade suficiente para garantir que o animal beberá, a qualquer tempo, quanta água desejar. Obviamente, ela deve ser isenta de contaminantes (físicos e microbiológicos) e ser constantemente monitorada. Faz parte desse monitoramento manter os bebedouros limpos.
O ideal é ter um reservatório que garanta alguns dias de consumo, de forma que, qualquer problema no abastecimento (como uma bomba quebrada), possa ser resolvido sem que os animais passem sede. O consumo é muito variável (40-80 litros/cab.dia), mas deve-se pensar em algo em torno de 60 litros por animal adulto por dia no dimensionamento