A agricultura global vai enfrentar desafios fundamentais na próxima década, principalmente a necessidade alimentar de uma população cada vez maior de maneira sustentável, os impactos da crise climática e as consequências da guerra na Ucrânia, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) e a OCDE.
Os preços de produtos agrícolas vêm subindo por causa de uma série de fatores, como a recuperação da demanda após a pandemia de covid-19, clima adverso em importantes fornecedores e aumento dos custos de produção e transporte, disseram as entidades no relatório perspectivas agrícolas da OECD-FAO Agricultural Outlook 2022-2031.
Isso tem sido exacerbado pela guerra na Ucrânia, que afetou a oferta da Rússia e da Ucrânia, dois importantes exportadores de cereais. A posição da Rússia no mercado global de fertilizantes também contribui para aumentar as incertezas.
“Sem paz na Ucrânia, os desafios de segurança alimentar que o mundo enfrenta continuarão piorando, especialmente para os mais pobres”, disse o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann. “Um fim imediato da guerra seria o melhor resultado para as pessoas na Rússia e na Ucrânia e para as muitas famílias ao redor do mundo que estão sofrendo com os fortes aumentos de preços causados pela guerra”.
“Estima-se que mais 19 milhões de pessoas poderão enfrentar desnutrição crônica globalmente em 2023, se a redução da produção global de alimentos e da oferta de alimentos dos principais países exportadores, incluindo Rússia e Ucrânia, resultar em menor disponibilidade de alimentos em todo o mundo”, disse o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu.
De acordo com o relatório, o consumo mundial de alimentos deve aumentar 1,4% ao ano ao longo da próxima década, impulsionado principalmente pelo crescimento populacional.
As dietas em países de baixa renda, no entanto, provavelmente continuarão baseadas em alimentos básicos e o consumo de alimentos não aumentará o suficiente para atingir a meta de fome zero até 2030, diz o documento.
Já a produção agrícola global deve aumentar 1,1% ao ano, diz o relatório, acrescentando que investimentos em tecnologia, infraestrutura e treinamento serão cruciais para esse crescimento.
No entanto, uma alta prolongada dos custos de energia e insumos, como fertilizantes, poderá limitar a produtividade e o aumento da produção nos próximos anos.
O documento destaca que as emissões de gases do efeito estufa pelo setor agropecuário devem crescer menos do que a produção na próxima década. No entanto, maiores esforços serão necessários para que o setor contribua para a redução global de emissões, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
A produtividade agrícola média deve crescer 28% na próxima década para que o mundo alcance o objetivo de fome zero, mas as emissões devem se manter sob controle para que as metas do acordo de paris sejam atingidas, disseram fao e ocde. isso é mais do que o triplo do aumento de produtividade registrado na última década.
Segundo o relatório, o bom funcionamento do comércio e dos mercados globais é essencial para enfrentar os desafios de curto e médio prazos à segurança alimentar.
Globalmente, o comércio das principais commodities agrícolas e de produtos processados deverá crescer em linha com a produção na próxima década. no entanto, algumas regiões deverão exportar uma parcela cada vez maior de sua produção doméstica, enquanto outras deverão importar uma parcela crescente de seu consumo total.
“Essa crescente interdependência entre parceiros comerciais ressalta a importância de um sistema de comércio multilateral transparente, previsível e baseado em regras”.